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Sou casada, tenho um filho, amo viver, adoro trabalhos manuais, música, filmes, antiguidades etc.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Meus mortos

  
Minha bisavó e minha tataravó


  Não é para ser um post lúgubre, nem que traga qualquer tipo de tristeza ou lamúria. É fato.
  Meus mortos me acompanham e não há nada de errado nisso.
  Quando começa a anoitecer, vou acendendo as luzes da casa e pensando: "detesto casa escura!". Repito a Aracy, tia-avó do meu marido, falecida há 2 anos. Foi a pessoa que conheci que mais temia a morte: uma simples febrezinha a deixava em pânico.
  Minha vó Ermelinda, cozinheira e doceira de mão cheia, viu-se, por ironia do destino, diabética. E um dia foi pega com balas de café escondidas na toalha de banho. E eu, por qual razão, escondo gostosuras pela cozinha? Será que penso enganar a balança? Se ela não ver não engordo? Seus ponteiros não poderão me acusar? Afinal, nem diabética eu sou...
  Minha vó Isabel morou numa fazenda boa parte de sua vida e tinha covas nos joelhos causadas pela queda de uma cerca. Por que as covas nos meus joelhos estão ficando iguais às dela?
  Não esqueço as dores de amor da minha tia Paula, morta aos 36 anos. Dizem que foi câncer, penso que foi um amor não correspondido que lhe trouxe a enfermidade.
  Meu tio João trazia nos olhos e na voz grave toda a rispidez que uma grande infelicidade interna pode causar. Infeliz consigo, não conseguia fazer feliz quem amava.
  A tia Piléria tinha horror às tempestades. Fugia delas se escondendo dentro do guarda-roupas.
  Meu vô Mário era muito ativo e cheio de boas ideias. Adorava "bater perna", como dizia a vó Ermelinda, sua esposa. Terminou esquecendo como voltar para casa.
  Tia Mavilde foi uma das donas de casa mais caprichosas que conheci: até sua vassoura tinha capa de crochê!
  Tia Domitila era professora de inglês e apesar de casada, ia ao cinema sozinha nos anos 60. Ora, ela queria ver o filme, o marido não, ela ia só. E estava tudo certo, como deveria ser.
  Todas essas cenas e muitas outras refletem em mim, fazendo com que eu seja quem sou.

32 comentários:

Simone pinturas e crochês disse...

Boa tarde querida Rebeca!
Ameiiiiiiiiiiiiiii...
Acho isso muito legal,lembrar de pessoas ou coisas que infelizmente já não faz parte da vida, mas acho maravilhoso,tbm gosto de admirar fotos antigas, na verdade não tive contato com quase ninguém, mas tenho uma foto que amo, é do meu avô, que foi muito cedo embora, vítima do impiedoso cancêr, era lindo,um alemão forte e carrancudo,mas de uma forma ou outra foi eu a neta que mais consegui me aproximar dele e guardo tudo isso em meu coração com muito carinho e saudade ♥♥♥
Beijos e tudo de bom!

Paula disse...

independentemente de quem são ou como são família é a nossa referência mais importante e que muito nos define. curiosamente escrevemos pouco sobre ela e as memórias vão-se perdendo. tem muito valor esses textos que escreve Rebeca, um dia seu filho (ou um neto, quem sabe?) vai gostar de ler. continue. bj

Unknown disse...

que lindo texto...parecia-me que via as pessoas, conforme você ia relatando...
obrigada ..

beijos de MF

Val disse...

Acho que somos a junção de pequenos fragmentos dos antepassados com quem vivemos. Eu tenho o temperamento de minha avó paterna, e convivi pouco com ela. E de alguns anos a esta parte, me assusto quando me olho no espelho e vejo a minha mãe. Ainda esta manhã, olhei para um reflexo meu num vidro ao acaso na rua, e o meu cabelo era o dela. Ora eu nunca fui parecida com ela! mas estou cada vez mais igual.
Lindo texto Rebeca, acho que vamos envelhecendo (tenho a sua idade) e cada vez nos lembramos mais dos que se foram...

Agora respondendo: o doce de tomate é ótimo, se tiver um tempinho experimente, eu sou suspeita porque adoro tomate de tudo quanto é jeito.
O movel azul, vou tentar fotografar melhor quando tiver com uma lente nova na máquina. Fica na minha copa.
Os potes antigos de farinha e açucar eram de uma vizinha velhota (tb já se foi)que há uns 17 anos, colocou na escada para jogar fora e eu peguei. Tenho mais dois: grão e café. Os jogos americanos de papel só não é tão prático para o dia a dia, porque tem que ter o trabalho de cortar. Mas o proximo jantar ( sem ser fake) que eu tiver em casa, meio descontraído, vou fazer a mesa toda, acho que dá um conjunto legal.
Por último: a sua visão é de lince! como notou as colherinhas com o limãozinho na ponta!!!??? são colheres para chá de limão. Bjs!!

M de Maria Ateliê disse...

Oi Rebeca,
Que texto bonito...
Acho que somos um pouquinho de cada um dos nossos familiares antigos.
Seja em gestos, pensamentos...
Tenho lembranças também de 'tios avós' , primas da minha avó e dos meus avós...que renderiam muita coisa para contar.
Minha avó viveu até os 98 anos e costurava, cozinhava..
Brinco que quando estou na cozinha e algo dá certo, a vovó está por perto!rs
Somos todos por ligados por lembranças, querendo ou não elas estão lá...
Adorei o post, texto muito legal como sempre!
bjs
Ótima noite

Anônimo disse...

Não são seus mortos, são seus vivos, aqueles que moram dentro do coração da gente, nunca morrem, elas são lidas!!! parabens... abçs - Luz Raposo

Claudia disse...

Amiga... cada dia você me surpreende mais! As vezes fico entediada com as leituras dos jornais e sedenta por informações que me fazem pensar. Alias, acho que o mundo está precisando mais disso, boas leituras. Quando digo boas leituras, não estou dizendo só de leituras científicas, mas além disso, leituras humanas. Seu texto, na minha opinião, exprime isso: uma boa leitura! Um texto que revela um pouco de ti e um pouco de cada um de nós que lê. Obrigada, amiga. Bjs, Clau.

rose japan disse...

Ahhh Rebeca amei ler...vc sabe relatar bem...menina já pensou em escrever um livro...é sério fiquei presa na história e adoro ler livros qdo ela nos prende, assim como li aqui...fazer vc rir e chorar...eh hj podemos rir, ri um pouquinho.pois vc nos contou de uma maneira....nem sei dar o nome...nossa seu avô Mario esquece até de voltar..triste na época, adorei se esconder no guarda roupa mas vc sabia que conheci uma senhora que devido a guerra....qdo ela ouvia barulhos de trovões ela ficava escondida tb em guarda roupas...tadinha era trauma...
Adorei a sua tia q fazia croche e até a vassoura tinha uma capinha...nossa a casinha dela devia ser linda...

Tbm da sua tia q ia ao cinema sózinha e dava aulas de inglês...linda história e amo. amooo fotos antigas...
bjs rose jp

ahhh n pude deixar de rir das suas dores que te faz lembrar sua vó

trapos a voar disse...

Adorei conhecer os seus mortos! Também tenho uma relação de carinho e sobretudo saudade com os meus próximos que já foram...minha prima,avós,amigos...e falo sempre deles, gosto de recordá-los.

trapos a voar disse...

Adorei conhecer os seus mortos! Também tenho uma relação de carinho e sobretudo saudade com os meus próximos que já foram...minha prima,avós,amigos...e falo sempre deles, gosto de recordá-los.

Anônimo disse...

Olá Rebeca! Adorei o post sobre os "seus mortos". Também eu, tenho os meus. Não são muitos, porque graças a Deus tenho a sorte de ter a minha família de boa saúde. Mas recordo-me diariamente do meu avô Luís a chegar a casa com o seu jeito tranquilo e silencioso, e da minha tia Vitória com os seus lencinhos a cheirar a alfazema. Mas também vivo com a memoria de pessoas que não cheguei a conhecer, pelas historias que se contam dos meus antepassados. São tantas historias, contadas com tanto carinho, que vivo com eles como se os tivesse conhecido. São os nossos mortos que ajudam a compor a nossa vida. Beijos.

Drika Sanz disse...

Olá Rebeca,
Que coisa mais linda esse post. Eu adoro textos memorialísticos. Acredito que esses conhecimentos de vida acumulado pelos antepassados nos fazem quem somos (pelo bem e pelo mal). Essas lembranças de coisas que vivemos sem estar presentes fisicamente nos faz crescer e entendermos melhor a vida.
Bjss

Agulhas Colheres & Afins disse...

Adorei este post me fez pensar nas minhas heranças geneticas,adoro a maneira com tu escreve, já pensou em ser escritora?

Bjs.

Pri Helmberger disse...

Que texto lindo.
Somos um pouco deles, eu acho.
Eles deixam muito de si em nós.
Tem coisas que a vida não explica. Também acho que algumas doenças 'explicariam' o que não se explica, mas prefiro não dizer isso porque alguns céticos não aceitam. Então, não discuto.
Que bom que o melhor deles ficou pra você.
Beijos.

Regina Saraiva disse...

Olá Rebeca,

Mais uma delícia de texto! Linda homenagem aos seus e as suas lembramças. Fui lendo e procurando semelhanças com os meus, rs. Gostei muito.
Beijos

helena disse...

Muito obrigada pela visita.
Adorei ler este artigo. Os nossos antepassados fazem parte de nós, não há dúvida. e este post está repleto de alegria e de humor.

Helena disse...

Vou seguir! Temos gostos em comum!

lansucci disse...

Coisa boa que nossa história conte a história de nossos queridos. Todos carregamos algo dos que já foram...ou ainda não. Trejeitos, manias, gostos, aptidões, destrezas, habilidades...isso é muito bom. Ninguém vive sozinho, e quando se morre, que bom é que algo de nós também seja lembrado com carinho, saudade, gratidão...Bjo Rebeca.

Amara Mourige disse...

Rebeca, muito lindo seu post!Também tenho lembranças dos meus mortos! Minha querida mãe a qual herdei o gosto pela costura.Meu tio que me ensinou a fazer barquinhos e aviões de papel, hoje faço para o meu neto.
Um grande abraço
Amara

Regina Saraiva disse...

Olá Rebeca,

Passando para desejar bom final de semana. Adoro seus textos e fico a espera como quem espera um livro que mesmo sem ter lido a gente sabe que vai gostar.
Beijos

Lia Gloria disse...

Te invejo, viu. Tens memórias marcantes de familiares. Eu não convivi com tios, tias, avós, primos, e lamento muito. É uma bagagem que me falta.
Estás certa. Os hábitos e comportamentos de parentes, ainda mais com personalidade forte como a 'tia Domitila' - alheia às barreiras de sua época- incorporam na gente.
Achei interessante os nomes incomuns, alguns, não conhecia: Piléria e Mavilde. E são nomes fortes.
Adorei saber dos teus mortos.

bjs

Sergio disse...

Rê querida, ADOREI o post e a idéia de registrar os que se foram!
Você é 'dimais' menina!!!
beijão!!

Luiz Ricardo disse...

Rebeca, muito legal seu blog. Vou acompanhar daqui para a frente. Lembro-me bem da Tia Pila se escondendo dos trovões!

Mirian Trédicci disse...

Olá Rebeca,
Pq não lembrar deles, já que são parte importante da nossa vida...
Lembro dos meus com muitas saudades!
lindo texto!
Um beijo

Judy disse...

Olá Rebeca!
É uma delícia ler seus Textos (com letra maiúscula!).
Como deixar de relembrar as pessoas que nos ajudam a criar nossa própria história, eles permanecem vivos em nossas lembranças.
Bom fim de semana,

M de Maria Ateliê disse...

Oi Rebeca,
Passou voando mesmo...
Daqui a pouco estaremos falando isso de novo rs
Também adorei a ideia com crochê, e tem outras no link.
bjs e ótima semana!

Rosa Paula I Le Paquet disse...

É muito interessante como somos um pouco de todos que vieram antes de nós, embora pouco nos atentemos para isso. Relembrar ajuda a entender também, tanto o passado como o futuro.
Tenha uma ótima semana!
Rosa
Le Paquet

Joana disse...

:) Tão bonito! Também penso muito nos meus antepassados, nas saudades que sinto e na presença diária que eles deixaram dentro de mim. (Muito obrigada pela sua visita no meu blog). Beijo

Márcia Helena disse...

Rê, que legal! Também queria ter histórias assim para contar, adorei, beijos

Virgínia disse...

Tão bonito :) Um abraço, desde Portugal!

PINTA ROXA disse...

Têm mortos que ficam sempre vivos no nosso coração, na nossa mente. E quando alguma coisa acontece que nos faz lembrar deles, é porque estão vivos em nós.
A minha Vó Isabel anda tantas vezes presente na minha vida. Ainda ontem á noite eu olhei para o céu e falei com ela.
Loucura diram uns... saudades digo eu!.

Unknown disse...

Lindooo!! Também amo minhas memórias, meu acervo de família, minhas fotografias, tudo que é nada mais nada menos que um registro da minha história!...
Bom ter uma história pra contar e mostrar, neh...

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