Começo a desconfiar que os espelhos têm personalidade! A sério! Juro!
Na minha cabeleireira habitual há um espelho condescendente e gentil. De todo enganoso ele não é, mas procura, desesperado, me apresentar de um ângulo mais favorável, dentro do possível.
Outro dia, diante da impossibilidade dessa cabeleireira me atender, lancei mão de outra profissional, em outro salão, que estava disponível.
Que espelho cruel ele abriga! Um ser amargo que fez questão de me apontar todos os defeitos!
A infeliz criatura parecia resoluta e satisfeita em me entristecer. Sabe lá por quais traumas passou para ter satisfação em me indicar as grandes bochechas, a espinha tardia, a maquiagem que já se fora.
Eu ansiava minha saída do salão de "beleza" como um peregrino no deserto anseia água fresca.
Por fim, quando terminou meu tormento, saí apressada, jurando não tornar a vê-lo.
Depois, menos aflita e com mais raciocínio, decide perdoá-lo: com certeza ele não estava num bom dia.
E me achando toda pimpona, fui passear.