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Flores colhidas pela rua num vaso querido presenteado pela minha mãe |
Meus olhos foram se esgarçando com o uso.
Com o tempo, vieram nuvens suaves que, ao se instalarem, viraram cinzentos obstáculos.
Se antes, o brilho da juventude refletia dos meus olhos para fora intensa luz, agora um fraco farolete me conduz.
E, tento tateando, ver o que eu via, ouvir o que me encantava, sentir o que eu sentia...
Mas, pobre condutora de mim mesma, sigo às cegas por um caminho tão óbvio quanto inesperado: envelheço.
E, se as sensações já não são as mesmas, que dizer dos meus olhos? Onde está toda a magia que a vida me prometia?
Viro ansiosa e tenho claro: a magia me desperta toda manhã com o cheiro do café que meu amor prepara.
Ouço claramente a magia no girar das chaves quando meu filho, meu amado filho, chega são e salvo nas madrugadas.
Percebo algo realmente mágico acontecendo quando as flores do jardim se abrem e pássaros de toda sorte vêem passear entre elas.
Há um encantamento misterioso no som das patinhas da Mafalda correndo para me encontrar. A cada lambida sinto: algo mágico me toca e aquece.
Sob os lençóis, quando a noite escorre lá fora, toco enlevada com meus pés os pés queridos que dormem ao meu lado.
Percebo então que, agora enxergo melhor que nunca.