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Minha bisavó e minha tataravó |
Não é para ser um post lúgubre, nem que traga qualquer tipo de tristeza ou lamúria. É fato.
Meus mortos me acompanham e não há nada de errado nisso.
Quando começa a anoitecer, vou acendendo as luzes da casa e pensando: "detesto casa escura!". Repito a Aracy, tia-avó do meu marido, falecida há 2 anos. Foi a pessoa que conheci que mais temia a morte: uma simples febrezinha a deixava em pânico.
Minha vó Ermelinda, cozinheira e doceira de mão cheia, viu-se, por ironia do destino, diabética. E um dia foi pega com balas de café escondidas na toalha de banho. E eu, por qual razão, escondo gostosuras pela cozinha? Será que penso enganar a balança? Se ela não ver não engordo? Seus ponteiros não poderão me acusar? Afinal, nem diabética eu sou...
Minha vó Isabel morou numa fazenda boa parte de sua vida e tinha covas nos joelhos causadas pela queda de uma cerca. Por que as covas nos meus joelhos estão ficando iguais às dela?
Não esqueço as dores de amor da minha tia Paula, morta aos 36 anos. Dizem que foi câncer, penso que foi um amor não correspondido que lhe trouxe a enfermidade.
Meu tio João trazia nos olhos e na voz grave toda a rispidez que uma grande infelicidade interna pode causar. Infeliz consigo, não conseguia fazer feliz quem amava.
A tia Piléria tinha horror às tempestades. Fugia delas se escondendo dentro do guarda-roupas.
Meu vô Mário era muito ativo e cheio de boas ideias. Adorava "bater perna", como dizia a vó Ermelinda, sua esposa. Terminou esquecendo como voltar para casa.
Tia Mavilde foi uma das donas de casa mais caprichosas que conheci: até sua vassoura tinha capa de crochê!
Tia Domitila era professora de inglês e apesar de casada, ia ao cinema sozinha nos anos 60. Ora, ela queria ver o filme, o marido não, ela ia só. E estava tudo certo, como deveria ser.
Todas essas cenas e muitas outras refletem em mim, fazendo com que eu seja quem sou.