Outro dia, fui a um antigo depósito de doces que existe há muitos anos aqui, em Piracicaba. E fazia também muitos anos que por aquelas bandas não ia. Tanto tempo havia se passado que fiquei na dúvida se o depósito ainda existia.
Dirigindo a caminho, grande saudosismo me atacou: por que deixei de frequentá-lo? Por que não percorri mais vezes seus corredores mal iluminados, não estimulei mais suas vendas? Se é que havia fechado, a culpa, além de minha, era de gente como eu que com o tempo foi abandonando pequenos comércios familiares e se debandou para os grandes supermercados. Minha culpa!
Conforme fui chegando à rua do dito depósito, mais e mais pesado ficava meu coração. E dei de romancear minhas lembranças: o bom velhinho que ficava no caixa, seu filho jovem e prestativo ao lado; o colorido dos doces e suas embalagens alegrando o depósito e minha gula.
Relembrei de algumas festas abastecidas lá, quando meu filho era apenas uma criança. Que tempo bom!
Quando dei por mim, estava em frente ao estabelecimento e, para minha surpresa, ele ainda existia!
Sim, o velho e bom depósito de doces estava ali, de portas abertas e braços açucarados prontos para me abraçar.
Entrei feliz com essa volta ao tempo, e senti mesmo que tudo em minha volta congelava.
De pronto reconheci o filho do velhinho, já ele mesmo quase idoso. Empolgada lancei meu mais alegre "boa tarde". Ele, de óculos na ponta do nariz, só esboçou um cumprimento mudo, muito mal humorado.
A iluminação continuava ruim, como antes. As prateleiras estavam apenas parcialmente ocupadas: grandes lacunas denunciavam uma grande venda ou uma grande falta.
Ele continuou contando moedas, cabisbaixo e sem nenhuma vontade de ser simpático.
Percorri triste aqueles corredores e juro que queria fazer uma grande compra mas, desanimada, abracei um pacote de paçoquinhas, paguei e fui embora.
O velhinho não existia mais, o filho era antipático e ranzinza, os doces já não eram os mesmos.
Fiquei pensando que faz mesmo sentido as coisas passarem de uma vez, embora isso traga saudades e às vezes melancolia.
E analisando mais ainda, vi que a Rebeca que percorria aqueles corredores também não era mais a mesma: os anos passaram para mim também e a moça que por lá ia, hoje é uma senhora em busca de um tempo que não volta mais, para o bem e para o mal. Então, está tudo certo e que bom que a via é exatamente como é.
17 comentários:
Que triste...
Mas entendo.
Hoje em dia está difícil manter um negócio, especialmente para os mais idosos.
Tem uns 15 dias passei na frente de um mercadinho, desses mesmo que você comenta, era um casal que tocava. Foi modernizado e tem dois pós-adolescentes no caixa, mais um tomando conta dos pães.
Fiquei com essa sensação de que o casal antigo vendeu. Bem isso que você colocou: a situação está difícil, nem todo mundo aguenta a barra deste mundão de ai ai meus sais.
Dá pena... mas faz parte, né. :-(
Mesmo o filho sendo ranziza, é sempre bom voltar a alguns lugares não é? Bjs grande.
O tempo passa mas as memórias ficam ... :) Boa semana Rebeca!
Olá Rebeca,
Adorei o texto, primeiro por gostar de tudo e de como escreve e, já que o tema é saudade, confesso que estava saudosa deles.
Segundo pela coincidência do doce, explico: minha filha vem me visitar e estou fazendo um dos seus pratos favoritos, canjica com amendoim, a receita deliciosa herdada da sogra é feita com paçoquinha, e acabo de usar os seis últimos quadradinhos que o marido trouxe do Brasil.
Beijinhos.
BOA TARDE, COLEGA REBECA!
ADORO ESSAS PAÇOCAS. POR AQUI, AINDA SÃO ENCONTRADAS COM FACILIDADE. :)
SOU MUITO SAUDOSISTA E PENSO QUE COISAS COM SABOR DE INFÂNCIA, FORNECEM DOCES LEMBRANÇAS. :)
EI, MENINA!
VENHA ESPIAR EM "GAM DOLLS (2) O QUE ACABEI DE POSTAR! ENCANTE-SE COM MINHAS PINTURAS ARTESANAIS: ESTÃO BACANAS DEMAIS!
FICAREI FELIZ COM TUA VISITINHA E COMENTÁRIO, SEMPRE TÃO SIMPÁTICOS.
TENHA UMA ÓTIMA TARDE.
ABRAÇÃO PRA VOCÊ! :)
Ah que lindo texto!! Uma história triste, mas como você falou..o tempo passa para todos nós e faz parte relembrar o que passou com saudades, mas se tiver uma paçoquinha para adoçar a vida, melhor! rsrs
Um beijo querida
É uma delícia ler os seus textos! Melhor que paçocas!
Bjo
É lamentável,pois os tempos bons estão
acabando, a delicadeza e o trato quase
nem se vê!!!Obrigada pela doce visita!
Beijos
Oi, Rebeca!
Nossa, que triste! Muito chato quando essas pequenas mágicas se perdem e vão parar nas mãos de pessoas que não fazem com amor. :/
Bom dia Rebeca!
Passeando por aqui, vendo lindas artes e este texto que reflete a vida, perfeito! Já aconteceu comigo uma história semelhante e com certeza as emoções são sempre diferentes, pois o tempo passou e tudo mudou...adorei ler!
Beijos
CamomilaRosa
Olá Rebeca, um texto lindo e sensível, como sempre. Tudo na vida, sempre tem um fim. Fazendo um paralelo com a sua história: na empresa onde trabalho vendemos muitos andares antigos que os novos donos reformam. Nem sempre da melhor forma: muito não entendem a alma nem a história da casa, arrasam e modernizam tudo. Depois me convidam para ir ver a "casa nova" e eu enrolo e descarto a visita. prefiro ter na memória o andar como ele era, lindo, cheio de pormenores de época.
No caso deste mercadinho, foi pena o filho não ter acompanhado os tempos, talvez mantendo a traça e o aspeto familiar, mas dando um iluminação mais atrativa e sobretudo um atendimento agradável. Duvido que vc não voltasse lá, quanto mais não fosse para comprar mais uns pacotinhos de paçoca. Beijos!
Mas o filho e agora dono devia ser mais simpático, um sorriso alegrava a tua entrada e talvez viesses de braços cheios de doces para casa. Mudamos e devemos mudar mas para melhor. beijinhos
Una historia triste pero el tiempo pasa Rebeca querida !!
Puxa...eu tenho a mania de querer reviver tempos que não voltam. Mas nunca pensei que há um lado bom nisso, e sinceramente creio que não há. Quando visitamos meus sogros, numa cidadesinha no interior do Rio Grande do Sul, faço questão de visitar o centro da pequenina cidade e recorrer aos também pequeninos comércios em busca de velhas recordações, como os antigos balcões de madeira e vidro,que emolduram coisinhas que lembram a infância, inclusive os doces que já não se encontram nas cidades grandes.Tenho Saudades de tanta simplicidade.
Puxa...eu tenho a mania de querer reviver tempos que não voltam. Mas nunca pensei que há um lado bom nisso, e sinceramente creio que não há. Quando visitamos meus sogros, numa cidadesinha no interior do Rio Grande do Sul, faço questão de visitar o centro da pequenina cidade e recorrer aos também pequeninos comércios em busca de velhas recordações, como os antigos balcões de madeira e vidro,que emolduram coisinhas que lembram a infância, inclusive os doces que já não se encontram nas cidades grandes.Tenho Saudades de tanta simplicidade.
Às vezes esses lugares/pessoas só deveriam mesmo estar nas nossas vidas por um tempo. Ou talvez nem estivessem de fato em nossas vidas, mas apenas na imaginação criada pela nostalgia de outros tempos que talvez nem fossem tão doces assim. A sua percepção no final é o que vale! Lindo texto!
Beijos
Pois é assim... o tempo é danado.
Temos que aprender a aproveitar bem cada momento pois eles são únicos.
Para nossa alegria podemos relembrar as boas coisas sempre que quisermos.
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