Ligo e sou informada que meu cartão está surdo, mudo e bloqueado! Havia a suspeita de uso indevido então bloquearam o coitado. Ele, meu amigo sabedor de todos os meus segredos, meus medos, minhas ousadias e até da minha cara de pau ( às vezes parece que ouço ele dizendo: "Não acredito que ela me usou prá comprar isso!!!!").
Um novo cartão está a caminho mas eu, órfã, me sinto desajustada.
A internet perde a graça: e se aparecer "aquela" promoção e eu sem cartão? As vitrines perdem a graça. Não ouso sequer pensar em visitar uma loja de tecidos. Sou um pária. Uma sem cartão.
Medito e vejo o absurdo da situação: quando me achava curada da onda (onda não, tsunami) de consumismo, tenho esta recaída! Sinto a falta dele com a de um parente querido!
E vou me convencendo do tanto que tenho ainda a aprender, do tanto de desapego que ainda tenho que praticar.
Passo o fim de semana quase zen: gasto apenas o essencial, invento reaproveitamentos, pesquiso vidas mais sustentáveis.
Acordo na segunda-feira pronta para uma nova vida, convencida que viver é um arte simples para quem é simples. E estou simples e pura. E sem frivolidades!
E quando já pensava nos dizeres do cartaz que levaria na passeata que promoveria contra o consumismo, eis que recebo uma correspondência.
E quando já pensava nos dizeres do cartaz que levaria na passeata que promoveria contra o consumismo, eis que recebo uma correspondência.
Lá no fundo do envelope vem ele, vermelho, brilhante e com olhos de promessa: é o novo cartão que chega!
Penso bem e acho que hoje ia chover mesmo e a passeata pode esperar mais um pouco...