O que é que dá na gente quando não temos projeto algum? Tristeza, depressão, vida completamente sem graça, sem foco.
E o que é que dá em algumas pessoas que não podem ficar nunca sem fazer nada? Formigas na cadeira, inquietação... a perpétua sensação de que existe algo que tem que ser feito.
Eu sou desse tipo.
Se descanso, penso no que poderia ter feito. Se faço, penso que poderia ter descansado. Vivo em conflito com o "fazer", como se fosse quase uma obrigação ter sempre que estar na lida.
De um tempo prá cá, decidi dar importância para o não fazer nada. Quando possível, dedico um tempo do dia prá ficar de bobeira, que afinal de contas é um tempo bem investido.
Se a gente fica só na correira do dia-a-dia, mal dá tempo de pensar em certas coisas. E considero pensar tão importante! É uma coisa que dispensa companhia, dar prá ser como um jogo com a gente mesma, e às vezes nos leva a conclusões surpreendentes que teriam passado desapercebidas sem maiores reflexões.
Talvez o meu encanto com a costura seja um reflexo do meu gosto pelo pensar. Como geralmente é um prazer solitário, proporciona altas conversas internas.
Estudo a costura e vou dizendo prá mim mesma "faça aqui primeiro", "olha essa costura torta, menina", "tá ficando show, hein?", "você poderia caprichar mais, sei que você consegue".
E quando já está tudo caminhando bem na costura, sobra muito espaço para outros pensamentos. E vou refletindo sobre o que já me aconteceu, sobre as pessoas, sobre a vida em geral.
E levo a paixão de costureira também para o carro: dei prá fazer hexágonos, que pedem tão poucos materiais, enquanto espero meu filho sair da escola.
O velho estojo escolar abriga os tecidinhos (comprados já cortados em círculos, num brechó: foi aí que descobri que dá certo transformar círculos em hexágonos), a tesourinha relíquia da pré-escola do filho, agulha, linha e só. A diversão está garantida, as mãos ocupadas e os pensamentos soltos por aí.