Meu aniversário de cinquenta anos foi em fevereiro. Sem festa, a data parece não ter fim dentro de mim.
Não fiz cinquenta anos de repente: essa ideia de ter cinquenta anos me vem caindo aos poucos, no decorrer dos dias e meses deste 2016.
Parecia um aniversário qualquer mas, definitivamente algo mudou.
Por um lado, me sinto promovida: cheguei a uma idade privilegiada.
Envelhecer, para mim, não é demérito; ao contrário, como antes fui um espermatozoide mais ágil, agora também atesto minha capacidade de sobreviver.
E essa sobrevivência me faz querer mais da vida.
Quero, por exemplo, lidar com o mínimo possível de aborrecimentos.
Sinto-me obrigada a selecionar o quê e quem me faz bem.
Parece que finalmente me sinto mortal, de verdade. Constato que já vivi bem mais do que tenho pela frente e que a qualquer hora tudo pode mudar, para melhor ou não.
Portanto, esse hábito de postegar desejos pode ser em vão. É agora ou nunca prá muitas coisas.
A parte gozada é que me sinto na adolescência da velhice! Mesmo!!!
Então, aproveito para usar algumas coisas e cores, me sentindo mais colorida do que nunca.
Importo-me com bem menos, chegando a ser difícil me tirar do sério. Às vezes, queria ser mais rígida, levar mais coisas a sério mas, se isso já era duro antes, agora virou esforço à toa.
A casa não está tão limpa e em ordem mas é uma casa tão produtiva! Produzo refeições com afeto, costuras, mimos, brincadeiras com a Mafalda, doces diet para o marido, que volta e mexe reclama da bagunça.
Gente, é uma baguncinha tão feliz, que nem deveria ser chamada de bagunça. Teria que se inventar uma outra palavra para descrevê-la: talvez bacrita (bagunça criativa), baliz (bagunça feliz). Ou então, em vez de uma palavra, uma abreviação: COPAEMLU (Coisas Passeando em Outro Lugar). O que deveria estar na cozinha, veio passear na sala; a colcha de retalhos da cama, veio à lazer para o sofá, ver TV conosco. Nada muito grave ou vergonhoso.
Por fim, constato que me sinto absolutamente confortável e feliz comigo mesma. Sei das minhas falhas mas antes, sei dos meus esforços, da minha boa vontade, da minha própria história que me fez ser a cinquentona que hoje toma conta da menina que ainda mora aqui.