sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Eu e o Fernando

 Há um Fernando Pessoa que mora no meu carro.
No trânsito mais lento ele me sussurra que olhe as árvores, observe as pessoas, procure pelas flores.
No engarrafamento, sou eu quem lhe procura as palavras, que lhe pergunta sobre o "mistério das cousas".
Ele me diz que "o único mistério   quem pense no mistério".
Quando a demora começa a me irritar, ele me aconselha: "sejamos simples e calmos como os regatos e as árvores".
E quando resolvo, armada de lápis e papel, derramar minhas lamúrias em versos rimados, ele ri alto e compara: "há poetas que são artistas e trabalham nos seus versos com um carpinteiro nas tábuas! Que triste não saber florir, ter que por verso sobre verso, como quem constrói um muro, e ver se está bem, e tirar se não está!"
Reflito e ele tem razão: prá que rimar e trabalhar sobre cada palavra, quando o que tem que combinar é o sentimento, o que tem que rimar é apenas a batida do coração.
E no doce momento em que os carros andam e o trânsito se movimenta, chego em casa e peço a Fernado P. que continue no meu carro prá sempre.
Mas, ele já está em mim, já invadiu meu modo de olhar e pensar.
Fecho a porta do carro e ligo o alarme.
Esse livro do Fernando Pessoa mora no meu carro!

3 comentários:

  1. Oiê Rê, tudo bem? Nossa! Não apareço por uns dias e quantos posts, anda inspirada? Como sempre adoro seus posts, esse inclusive, muito criativo. Beijos e um ótimo final de semana pra você.

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  2. Oi Rebeca! Belo texto, pelo visto anda muito inspirada...

    Bj

    Beth

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  3. Linada postagem e com certeza você está muito bem acompanhada rsrs...beijos,Lú!

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